A UNÇÂO COM ÒLEO È PARA OS
NOSSOS DIAS ?
Há muitos desvios praticados no pseudocristianismo da atualidade. Um
deles é a unção de pessoas com óleo com os mais diversos objetivos,
principalmente o de curar ou conceder algum tipo de poder espiritual.
Praticantes e defensores do costume insistem em dizer que há passagens bíblicas
que ensinam unção com óleo e que há pelo menos uma (Tiago 5.14) que ensina a
ungir os enfermos com óleo com a finalidade de cura milagrosa.
Nosso propósito neste breve estudo é verificar se realmente existe alguma
autenticidade em tais afirmações, se há, de fato, algum respaldo bíblico para
esse comportamento.
I. A ORIGEM DA UNÇÃO COM ÓLEO NO POVO DE DEUS
Em Êxodo 30.22-33 observamos que Deus estava estabelecendo as primeiras diretrizes
para o seu povo que libertara do cativeiro no Egito e que colocara em uma
peregrinação em direção à terra prometida. Estava estabelecendo mandamentos
concernentes ao culto de um modo geral; o local onde seriam realizados os
cultos e os comportamentos com respeito ao culto.
Dentre os mandamentos estava o de que fosse preparado um óleo que foi chamado
de óleo sagrado da unção. Era um preparado específico que tinha uma fórmula
específica ditada pelo próprio Deus a Moisés e não era, de maneira alguma, somente
o óleo da oliveira ou azeite. Era, também, uma fórmula que não poderia ser
copiada por ninguém sob pena de ser banido do povo de Deus.
O óleo da unção tinha objetivo definido e era o de santificar os elementos do
culto, se consagrá-los completamente para Deus. Por isso, após a sua
preparação, deveria ser aspergido sobre o tabernáculo, sobre os móveis, sobre o
altar e sobre os sacerdotes. Tudo deveria ser santificado através da aspersão
do óleo da unção. Mas havia uma proibição: o óleo da unção não poderia, de
maneira nenhuma, ser aplicado sobre o corpo de alguém e somente os sacerdotes
poderiam ser ungidos com o óleo.
II. O SIGNIFICADO DA UNÇÃO COM ÓLEO NO ANTIGO TESTAMENTO
No Antigo Testamento tudo o que envolvia o culto era simbólico e
provisório. A caminhada pelo deserto, o tabernáculo, o altar, o animal
sacrificado, os sacerdotes. Tudo figurava as realidades definitivas que seriam
estabelecidas por Jesus no Novo Testamento, quando, então, envelheceria o
Antigo Testamento.
A unção com óleo sagrado também era simbólica e provisória. O óleo seria
preparado por Moisés, o libertador e seria derramado sobre os elementos do
culto, que também era provisório e simbólico. O tabernáculo e a arca
significavam a presença de Deus e o sacerdote era o mediador entre Deus e os
homens, santificado para isso.
Os textos do Antigo Testamento que fazem referência à preparação e utilização
do óleo sagrado da unção são muito definidos. No hebraico são utilizadas as
palavras shemen (óleo), qodesh (separado para Deus, sagrado), e mishchah
(consagração, unção para consagrar). A utilização dessas expressões aponta
clara-mente para o fato de que a unção com o óleo sagrado significava que
objetos, lugares e pessoas estavam sendo especialmente consagrados a Deus,
separados em santificação para ele. Não existia qualquer significado de cura ou
de atribuição de poder.
Só havia este significado quando a unção era realizada com o óleo preparado por
Moisés de acordo com a fórmula e critérios estabelecidos por Deus. Quem se
utilizasse do óleo de maneira diferente ou para ungir qualquer pessoa era
banido do povo de Deus.
Há quem diga que o óleo significa a presença do Espírito Santo, no entanto não
encontramos tal ensinamento ou afirmativa nas Escrituras.
III. O SIGNIFICADO DA UNÇÃO COM ÓLEO NO NOVO TESTAMENTO
Existem alguns textos no Novo Testamento que fazem referência a algum tipo de
unção com óleo e através da análise desses textos podemos ter uma visão do
significado dessa prática no Novo Testamento.
Primeiramente precisamos observar que em quase todos estes textos a palavra
grega utilizada que é traduzida por óleo é elaion que designava o óleo de
oliva, ou seja, todos eles fazem referência a uma aplicação de óleo de oliva,
de azeite que era utilizado para combustível de lâmpadas, para cura de doentes,
para ungir a cabeça e o corpo em festas e como artigo de cozinha. Não há
qualquer referência à aplicação de óleo sagrado da unção, a não ser em Hebreus
1.9 onde o escritor sacro faz referência ao Antigo Testamento, à unção do
Messias, utilizando a palavra elaion juntamente com a palavra crio que era
utilizada para fazer referência à unção para consagração. Em todos os outros
textos a palavra que é traduzida por ungir é aleipho que era utilizada para
todo tipo de aplicação de óleo sobre o corpo. Dicionaristas indicam que aleipho
era a palavra secular para ungir e que crio era a palavra sagrada ungir com a
finalidade de consagração.
Depois, analisando cada texto à luz do significado da palavra elaion podemos
compreendê-los e compreender o significado da utilização do azeite de oliva no
Novo Testamento. Em Marcos 6.13 observamos que o azeite era aplicado para a
cura dos enfermos como medicamento. É o mesmo sentido em Lucas 10.34 que faz
referência ao tratamento dos ferimentos do judeu pelo bom samaritano, e é o
mesmo sentido em Tiago 5.14 onde há o conselho para que o enfermo seja medicado
em nome do Senhor. Em Lucas 7.46 Jesus estava repreendendo o judeu que o
recebera em uma reunião festiva e não ungira a sua cabeça com azeite em sinal
de amizade e boas vindas como era costume.
Quanto ao texto de Tiago 5.14 não há que se estranhar que seja ensinada a
aplicação de medica-mento em nome do Senhor, acompanhada de oração. No Antigo
Testamento há o exemplo de cura de Ezequias, da parte de Deus, através da
aplicação de medicamento que foi mandado preparar pelo profeta Isaías (2Reis
20.1-7).
Entendemos que no Novo Testamento não há a unção com óleo com a mesma
finalidade que havia no Antigo Testamento. Não existe óleo da unção no Novo
Testamento porque a fórmula feita por Moisés não poderia ser copiada e porque
não existem os elementos de culto do Antigo Testamento no Novo Testamento. Não
existe Tabernáculo, não existe altar, não existe arca, não existe sacerdote.
Não existe nada disso para ser consagrado. O ungido de Deus já veio e todos os
servos de Deus são consagrados através dEle. O culto não depende de lugares
consagrados, nem de objetos consagrados, nem de sacerdotes. No Novo Testamento
só encontramos unção com óleo com a finalidade de aplicação de medicamento.
IV. A PRÁTICA RELIGIOSA DA UNÇÃO COM ÓLEO NAS IGREJAS DE NOSSO TEMPO
Se não existe na Bíblia o chamado “óleo ungido”, se não há na Bíblia a
aplicação do óleo da unção para cura milagrosa ou para aquisição de poder
espiritual, onde estaria, então, a base para a prática da aplicação de óleos
(os mais diversos) sobre enfermos e pessoas que desejam uma melhoria espiritual
em suas vidas, como tem sido tão praticado no meio chamado evangélico em nossos
dias? Certa-mente o que não é bíblico é de origem pagã.
A Igreja Católica adquiriu práticas do paganismo romano com todo o seu
misticismo. Rituais místicos de purificação foram adaptados e nessa adaptação
foi criado o sacramento da crisma, palavra que tem origem no grego críein,
derivada de crio, que significa ungir no sentido de consagrar para Deus como
vimos anteriormente. É uma prática que tem origem no catolicismo onde ainda
persistem as práticas do Antigo Testamento mescladas com o paganismo romano.
A prática da unção com óleo foi trazida para o seio das igrejas evangélicas
pelos adeptos do pentecostalismo, que baseiam suas crenças em símbolos, que
buscam poder sobre espíritos malignos e enfermidades (que consideram geradas
por espíritos malignos), que se aproximaram e se aproximam cada vez mais do primitivismo
religioso. Tem sido introduzido nas igrejas batistas por líderes que são
simpatizantes do pentecostalismo, que abandonaram a Bíblia como única regra de
fé e prática, que interpretam a Bíblia conforme seus próprios interesses e que
procuram exercer um domínio espiritual sobre seus liderados através de atos
religiosos supostamente de poder.
CONCLUINDO
A unção com óleo sagrado foi uma prática estabelecida por Deus, no Antigo
Testamento, com a finalidade de consagração de elementos do culto que deveria
ser, em tudo, santificado.
Não é uma prática que tenha continuidade no Novo Testamento considerando que o
culto do Antigo Testamento foi abolido na morte de Jesus Cristo com todos os
seus elementos físicos, humanos e espirituais.
O texto do Novo Testamento registra a unção com óleo como uma prática de
aplicação de medica-mento (o azeite de oliva era considerado um medicamento
eficiente para várias enfermidades).
Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento não existe qualquer ensinamento a
respeito da utilização de óleo com a finalidade de cura milagrosa ou de
obtenção de algum tipo de poder espiritual.
EV : Marcos augusto silva ( Bacharel em teologia e direito
canônico ) formado na FASTE FACULDADE TRANS – AMERICANA DE TEOLOGIA ,ITAGUAI RJ